sábado, 8 de agosto de 2009

No chão da memória





No chão da memória
Águida Hettwer


Quanto mais fujo das lembranças, mais elas me perseguem nas esquinas da memória. Meu olfato atiça num chiar da chaleira, no aroma roçando a campina, embrenhando-se num céu azul de anil. Retorno sempre no primeiro ponto, Aonde balançam os dourados trigais de Horizontina.

A terra vermelha encardiu minh´alma, aqueço-me ao redor do fogão à lenha, até as brasas, atingirem as cinzas. As letras brincam de boneca, com os amigos de infância, correm pela rua, atrás de vaga-lumes, rolam-se na grama, conversam entre si em plena sintonia.

O inverno chega mais cedo na infância, escrevo sob a película de geada no pára-brisa dos carros, as folhas cor de sépia forram o chão, arrastam os anseios, feito pássaros libertos de gaiolas. As portas das casas não têm tramelas, a passagem é livre, sento-me na cadeira de balanço de antepassados, concentrada ouvindo histórias.

No birô da memória, os livros têm cheiro de folha de laranjeira, nas páginas brotam sonhos, expondo das raízes ao caule. Como se a vida estivesse embrulhada em papel presente, e ao receber, rasgasse com avidez, em declaração de fé anunciada.

A alma cultua gestos simples, por mais que a vida esteja exposta às intempéries, as letras me proporcionam brincar no parque da infância, vozes, risos e palmas são misturados. Rangendo balanços de esperança, de uma geração futura, menos cibernética, e mais atuante.

As vestes guardam a poeira das brincadeiras, no chão da minha memória, permanecem os farelos de pão. Aonde somente é varrida a rotina, as histórias ficam.


17.07.2009

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Biografia Águida Hettwer Nasceu em 31 de março de 1974 na cidade de Horizontina no Rio Grande do Sul. Mora atualmente em Sapiranga/RS. Dedica-se às letras e as Artes no seu contexto amplo, desde muito jovem. Aprecia a simplicidade, a natureza, animais de estimação, Antiguidades e seu legado na história. Acadêmica de psicologia Feevale-RS. Faz da escrita uma terapia.