terça-feira, 13 de julho de 2010

“CABOCLO AMARGURADO” Marcos Sergio T. Lopes





“CABOCLO AMARGURADO”

Noite alta
Céu estrelado
O caboclo dá mais uma baforado
Na palha acesa grudada em sua boca
Arrisca uma dedilhada na viola empoeirada
Que há tanto tempo estava guardada.
Tem o peito apertado
Rasgado pela saudade
Tingido pela lembrança
Mordido pela mágoa.
Deixa o coração descansar um pouco
E absorto começa a lembrar
Da desilusão do amor
Da amada que não lhe amou!
Tem os olhos cheios d´água
Uma pontada no peito
Diante do pensamento que de novo lhe rasga:
- Era noitinha já quando voltou pra casa...
O peito era só alegria
Mesmo com a lida pesada.
Tinha Tereza seu grande amor
Mulher brejeira e fogosa
Sempre pronta para um desejo
Que no pé da orelha sempre tinha uma palavra
Para enlouquecer o pobre lavrador.
Sentiu um aperto dentro do peito
Quando pisou o pé dentro de casa.
Ouviu gemidos esquisitos
Acompanhados de algumas risadas.
Foi aí que seu coração chegou na boca
A vista se anuviou
O pensamento caminhou acelerado.
- Não podia ser! Esse temor que lhe açoitava!
A água no fogão de lenha já havia secado
A casa desarrumada.
Apertou os olhos com força enquanto caminhava
Dizia pra si mesmo que tava enganado
Reganhou a porta do quarto
Onde tinha lá guardado o seu ninho de amor.
De olho esbugalhado viu o que não queria
A cor lhe fugiu da feição
Enquanto o pobre coração batia acelerado!
- Tereza estava jogada nos braços do amigo
Que tanto prezava.
Tão nua!
E ria... Debochada!
Cravou uma faca em seu peito
Numa pontada que sufocava
Ficou cego de amor
Enquanto os dois saíram em disparada.
Esqueceram até das vestes
Espalhada pelo quarto desarrumado.
Ficou ali, estacado, por um tempo que não marcou
Deixou a cara toda ser lavada
Pelas lágrimas de desapontamento que jorravam.
Morreu um pouco naquela hora
E a feição ganhou sua marca de tormento.
Nunca mais ouviu falar de Tereza
Nem do amigo que tanto prezava...
Dá uma ultima dedilhada na viola
Respira fundo para espantar o desgosto
Dá na palha a ultima baforada
Entra porta dentro
Deita na cama tosca que ainda guarda
Um resto de perfume de Tereza
Fecha os olhos com gosto
Para esquecer da amada.

Marcos Sergio T. Lopes – 13/04/2008

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Biografia Águida Hettwer Nasceu em 31 de março de 1974 na cidade de Horizontina no Rio Grande do Sul. Mora atualmente em Sapiranga/RS. Dedica-se às letras e as Artes no seu contexto amplo, desde muito jovem. Aprecia a simplicidade, a natureza, animais de estimação, Antiguidades e seu legado na história. Acadêmica de psicologia Feevale-RS. Faz da escrita uma terapia.